domingo, agosto 20, 2023

Quadros de Di Cavalcanti desaparecidos há mais de 80 anos são reencontrados e expostos no Rio de Janeiro

"Carnaval", criado por volta de 1928, e "Bahia", de 1935, integram pela primeira vez em uma mostra no Brasil;

    Um dos principais artistas plásticos brasileiros e participante da Semana de Arte Moderna realizada em São Paulo há cem anos, o carioca Di Cavalcanti (1897-1976) produziu diversas obras, como alguns dos quadros mais importantes e valorizados do Brasil. 

    Um deles, Samba, considerado por especialistas sua obra-prima, foi destruído em um incêndio que atingiu a coleção particular do marchand Jean Boghici (1928-2015), guardada em seu apartamento em Copacabana, em agosto de 2012. À época, era avaliado em US$ 10 milhões.

Obra "Carnaval", de 1928, era um dos trabalhos do artista carioca que havia sumido

    Dez anos após essa perda, dois quadros do pintor, ilustrador, desenhista, caricaturista e muralista dos quais não se tinha notícia desde 1936 foram localizados. Agora, fez parte de uma exposição gratuita com cerca de 40 criações do artista, no Rio de Janeiro

    Paradeiro 

    Será a primeira vez que Carnaval, produzido por volta de 1928, e Bahia, de 1935, fora exposta no Brasil.

    Essas obras integraram uma exposição do Di Cavalcanti na galeria Rive Gauche, em Paris, em 1936, e, desde então, não havia notícia sobre o paradeiro delas, conta Luiz Danielian, dono da Danielian Galeria, na Gávea, onde os quadros foram exibidos, na exposição Di Cavalcanti - 125 Anos, que foi até 22 de outubro de 2022.

    O artista havia se mudado para Paris naquele ano, logo após sair da cadeia. Fora perseguido e preso pela ditadura militar sob acusação de ser comunista. Em 1940, diante do agravamento da Segunda Guerra Mundial no território francês, decidiu voltar ao Brasil. Não tinha, porém, condições de transportar suas obras. Pelo menos 56 ficaram na embaixada brasileira em Paris.

    Di pediu a um amigo que despachasse suas obras ao Brasil, a partir de Marselha, mas o transporte não deu certo, e algumas peças se extraviaram. Com o fim do conflito, o artista voltou à França e recuperou parte de seu acervo. Carnaval e Bahia, no entanto, tinham desaparecido.


Samba, 1925, quadro de Di Cavalcanti, na noite de 13 de agosto 2012 foi destruído por um incêndio

— Não dá para saber exatamente o que aconteceu com elas nesse período, se foram vendidas por Di Cavalcanti enquanto estava na França ou se se extraviaram, mas em algum momento foram compradas por um francês — conta Danielian, responsável por procurar os quadros. Segundo o marchand, os donos dos quadros de Di Cavalcanti inicialmente não tinham noção da importância dessas peças. Também não sabem exatamente onde seus antepassados as adquiriram:

— Acredito que tenham sido vendidos durante a exposição, em 1936 — diz.
— Di Cavalcanti ainda não era um artista consagrado, então seus quadros não eram caros para os padrões franceses da época. A família manteve um pequeno acervo de obras de arte, e essas duas entre elas.

    Para essa exposição, eles foram cedidos pelos donos, que não querem vendê-las. 

— Acredito que, se fosse colocado à venda, Carnaval iria superar o valor de A Lua, de Tarsila do Amaral, e se tornar a obra mais cara de um artista brasileiro já comercializada — avalia Danielian. 


A lua de Tarcila do Amaral 1928

    A Lua, de 1928, foi vendida em 2019 para o Museu de Arte Moderna de Nova York por U$ 20 milhões.


Conforme informações do jornal O Estado de S. Paulo.


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