No início da guerra de Putin contra a Ucrânia, em fevereiro de 2022, um fenômeno que chamou a atenção, além da diáspora de mulheres e crianças, foi o fato de que os jovens davam entrevistas em inglês fluente num país cujo idioma usa alfabeto cirílico e é muito parecido com o russo. Esse domínio do inglês é resultado do método educacional.
Nada surge por geração espontânea. Ao longo do século XIX, nas famílias aristocráticas do Império Ruaao, ao qual a Ucrânia pertencia, jovens ingleses eram contratados para ensinar sua língua às crianças, pela simples prática da conversação. Como isso funcionava bem, firmou-se o entendimento de que o aprendizado de Língua Estrangeira sustenta-se primeiro na prática da fala, para, só depois, estudar-se a gramática.
Já nossas escolas ocidentais adotam o caminho inverso, preparando o aluno inicialmente na gramática, esperando que ele venha a adquirir fluência de fala e escrita numa segunda etapa, que quase nunca ocorre.
No início da década passada, começando pelo Rio de Janeiro, com a secretária Cláudia Costin, os sistemas municipais de educação estenderam o ensino de Língua Inglesa dos anos finais para os anos iniciais, das crianças de seis anos de idade. Tivesse sido esse ensino baseado em conversação e em cantigas, em lugar de cópias de textos com ênfase na gramática, os adolescentes brasileiros estariam hoje falando inglês com proficiência.
Professor Cacildo Marques durante uma de inúmeras palestras |
Não se trata de mudar o método de aprendizagem no Ensino Médio, nem do antigo ginasial, embora a conversação deva ganhar mais destaque, de alguma maneira. Nesse nível, a gramática escrita já se torna necessária, mesmo porque os exames de ingresso às escolas técnicas e às universidades costumam avaliá-la.
Nos anos iniciais, antigo curso primário, ensinar Língua Inglesa a partir da gramática é contraproducente e não faz sentido. Assim, será muito salutar se os sistemas de educação impedirem de forma severa o ensino de gramática da Língua Inglesa nos primeiros anos escolares, substituindo isso pela prática da conversação e do canto. Se o professor não sabe conversar nesse idioma, aprenderá junto com os alunos. É melhor do que fingir que sabe e apenas manter-se cultivando textos escritos.
Cacildo Marques, é escritor, professor, administrador formado pela USP e editor do tablóid Gazeta Cidadã. Aqui várias publicações suas na livraria da Amazon. Texto publicado na edição 170 dez 2022
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