quarta-feira, fevereiro 01, 2023

Língua estrangeira por conversação

    No início da guerra de Putin contra a Ucrânia, em fevereiro de 2022, um fenômeno que chamou a atenção, além da diáspora de mulheres e crianças, foi o fato de que os jovens davam entrevistas em inglês fluente num país cujo idioma usa alfabeto cirílico e é muito parecido com o russo. Esse domínio do inglês é resultado do método educacional.
    Nada surge por geração espontânea. Ao longo do século XIX, nas famílias aristocráticas do Império Ruaao, ao qual a Ucrânia pertencia, jovens ingleses eram contratados para ensinar sua língua às crianças, pela simples prática da conversação. Como isso funcionava bem, firmou-se o entendimento de que o aprendizado de Língua Estrangeira sustenta-se primeiro na prática da fala, para, só depois, estudar-se a gramática.
    Já nossas escolas ocidentais adotam o caminho inverso, preparando o aluno inicialmente na gramática, esperando que ele venha a adquirir fluência de fala e escrita numa segunda etapa, que quase nunca ocorre.
    No início da década passada, começando pelo Rio de Janeiro, com a secretária Cláudia Costin, os sistemas municipais de educação estenderam o ensino de Língua Inglesa dos anos finais para os anos iniciais, das crianças de seis anos de idade. Tivesse sido esse ensino baseado em conversação e em cantigas, em lugar de cópias de textos com ênfase na gramática, os adolescentes brasileiros estariam hoje falando inglês com proficiência.

Professor Cacildo Marques durante uma de inúmeras palestras

    Não se trata de mudar o método de aprendizagem no Ensino Médio, nem do antigo ginasial, embora a conversação deva ganhar mais destaque, de alguma maneira. Nesse nível, a gramática escrita já se torna necessária, mesmo porque os exames de ingresso às escolas técnicas e às universidades costumam avaliá-la.
    Nos anos iniciais, antigo curso primário, ensinar Língua Inglesa a partir da gramática é contraproducente e não faz sentido. Assim, será muito salutar se os sistemas de educação impedirem de forma severa o ensino de gramática da Língua Inglesa nos primeiros anos escolares, substituindo isso pela prática da conversação e do canto. Se o professor não sabe conversar nesse idioma, aprenderá junto com os alunos. É melhor do que fingir que sabe e apenas manter-se cultivando textos escritos.

Cacildo Marques, é escritor, professor, administrador formado pela USP e editor do tablóid Gazeta Cidadã. A
qui várias publicações suas na livraria da Amazon. Texto publicado na edição 170 dez 2022

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